sexta-feira, 20 de julho de 2012

Onde está Roberto Cacheu?

Onde está Roberto Cacheu?
Foi depois de ter escutado um tal Marciano Indi e de ter lido o “Ditadura do Consenso” cujo artigo transcrevo na íntegra, com o devido pedido de desculpas do seu proprietário e esse destemido jornalista e guineense patriota e convicto, que me dei a cogitar e a levar para a praça pública algumas considerações ou especulações e porque não insinuações pertinentes, para ajudar a levantar um pouco do véu ao ciclo de mistérios que tem envolvido o desvendar de alguns assassinatos na Guiné-Bissau.
Em primeiro lugar vamos colocar à consideração de todos o artigo do “Ditadura do Consenso”:

Tenho lido 'notícias' de que Roberto Ferreira Cacheu foi 'assassinado'. Para poupar atalhos, digo já: não sei se o Roberto Cacheu está morto, se foi assassinado como também não sei se estará vivo. Mas uma coisa eu sei: desde 27 de dezembro último e até viajar para Lisboa (16 de maio) tentei sempre contactá-lo via telemóvel. Somos (fomos?) amigos, falávamos muito mesmo. O telemóvel não dava sinal de tocar sequer. Fi-lo à frente de amigos comuns que estão lá, em Bissau.

Tenho o chamado sentimento de culpa do dia seguinte, para ser franco. Culpado por, pelo menos, não tentar investigar, juntar as peças recolhidas, tentar completar o puzzle. E chamar nomes. E não será hoje que o farei. Para já, as informações em On são por demais contraditórias: enquanto o 'super-ministro' Fernando Vaz confirma, logo o director-geral da Segurança do Estado, e meu bom amigo, Serifo Mané desmente, advertindo: "«Muitas vezes as pessoas usam termos complicados para afirmar certas coisas. O Coronel Lino Lopes, até este momento, não se encontra em nenhuma cela. Ele está na sede da Direção-geral do Serviço de Informação do Estado». Neste sentido, o responsável máximo pela segurança guineense disse que, uma vez havendo informação sobre o eventual desaparecimento de deputado Roberto Ferreira Cacheu, era normal que Lino Lopes fosse convocado pelos serviços por ele antes tutelado.

Mas tem mais. Por outro lado, Serifo Mane informou que a sua instituição não tem a competência para deter uma pessoa. «Falei agora com ele e vi que pode ser visitado e conversar com as pessoas. Está preocupado com a gravidade destas informações que estão a ser vinculadas sobre a sua detenção», disse Serifo Mane. Interrogado sobre o paradeiro do deputado Roberto Cacheu, Serifo Mane disse que o assunto ainda está coberto de confidencialidade."

Uma coisa é certa: o desaparecimento do Roberto Cacheu é evidente, mas há certas coisas que não batem certo. Como pode alguém - com igual ou mesmo menos visibilidade que tinha o Roberto Ferreira Cacheu - desaparecer sem deixar rasto? E todo este tempo? Na Guiné-Bissau? Duvido, conhecendo como conheço as manhas do meu país. Hoje um é Judas, amanhã será Pilatos. Para bom entendedor...

Mais. Como é que, e isto hipoteticamente falando, Roberto Cacheu foi 'assassinado e queimado' e ninguém dar por nada? E o mesmo acontecendo com o pessoal (agentes, ou não) da DG da Segurança do Estado? Seriam todos cúmplices? Veremos. Não acusarei ninguém, menos ainda num assunto de tamanha gravidade e que envolve sangue - eu sou Jornalista. Vou simplesmente aguardar. Mas sempre atento a estas palavras sábias do DG da Segurança do Estado, Serifo Mané, hoje, em Bissau:

"Em relação às queixas sobre as divergências que se verificam no Serviço de Informação, Serifo Mane desmentiu estas informações referindo como exemplo as recentes nomeações, incluindo elementos da anterior direcção. No que diz respeito ao envolvimento de elementos de segurança na vida política, Serifo Mane disse que é altura para os agentes de informação de Estado colocarem um ponto final a estes comportamentos.

«A nível da segurança temos que parar de nos introduzirmos nos assuntos políticos, isto está plasmado nas leis da Guiné-Bissau», disse. Serifo Mane disse que se trata de uma situação grave que acaba de colocar o mérito de muitas pessoas em causa, em detrimento de cores partidárias. Face a esta realidade, Mane é da opinião que deve haver reformas profundas no Serviço de Informação do Estado.", fim de citação. AAS
Publicada por António Aly Silva em 16:50
Acusações de Marciano Indi, dirigente do PRID
O Senhor Marciano Indi, que presumo, um destacado dirigente de um partido político, salvo erro ou omissão, o Partido Republicano para a Independência e Desenvolvimento (PRID) e que afirma ou acusa, entre outras afirmações descabidas ou irresponsáveis, talvez até fruto da sua fraqueza académica e imbuída de uma perigosa ignorância, coisas como por exemplo, que o corpo do malogrado Roberto Cacheu foi queimado depois de assassinado, insinuando ou afirmando perigosamente que havia nesse crime o dedo de Carlos Gomes Júnior e do PAIGC.
O Partido Africano da Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC) também reage e num comunicado tornado público na comunicação social diz textualmente:

O PAIGC tomou conhecimento, através da comunicação social, do presumível assassinato do Camarada Roberto Ferreira Cacheu, dirigente e deputado integrante do Grupo Parlamentar do Partido.
A confirmar-se essa notícia, tratar-se-á de um crime hediondo e gravíssimo, que o PAIGC repudia e condena com toda a veemência.

O PAIGC exorta às autoridades competentes, ao rápido e cabal esclarecimento deste caso e assegura que estará permanentemente atento à evolução dos inquéritos judiciais.

Afinal onde está Roberto Cacheu?
Enquanto o Governo de Transição pela voz do Senhor Ministro Fernando Vaz confirma, a Direcção-Geral da Segurança de Estado, através do Senhor Director-geral da Segurança do Estado desmente.
Sem sombras para dúvidas, temos que convir que Roberto Cacheu, foi uma das figuras, talvez mesmo a principal figura de contestação à liderança de Carlos Gomes Júnior, quer pelas conferências de imprensa que promoveu e falou, quer através das marchas de contestação onde tomou sempre a dianteira, quer nos documentos e cartas enviadas à justiça e aos organismos internacionais onde a sua assinatura era a principal, não deu sinais de vida desde o dia 26 de Dezembro de 2011 data em que se registou mais uma suposta tentativa de golpe de Estado ou de ajuste de contas entre os militares narcotraficantes e que não se manifestou como se esperava com o 12 de Abril de 2012, data do golpe militar que derrubou Cadogo Jr e apeou o PAIGC por ele presidido do poder absoluto que detinham em todas as instâncias do país.
Meios bem informados e próximos do actual Chefe do Comando Militar que deu o golpe de Estado de 12 de Abril afirmam nos bastidores que Roberto Cacheu foi mandado silenciar porque sabia demais sobre muitos dossiers. Mais ainda, Roberto Cacheu era ainda uma figura muito próxima do Almirante Bubo Na Tchute.
Quando o corajoso e abnegado jornalista guineense se interroga no seu respeitável blog, que aqui reproduzo uma vez mais fielmente neste meu opinar, cito: “Como é que, e isto hipoteticamente falando, Roberto Cacheu foi 'assassinado e queimado' e ninguém dar por nada? E o mesmo acontecendo com o pessoal (agentes, ou não) da DG da Segurança do Estado? Seriam todos cúmplices? Veremos. Não acusarei ninguém, menos ainda num assunto de tamanha gravidade e que envolve sangue - eu sou Jornalista” fim de citação.
Também não deixa de ser importante, que o PAIGC no seu comunicado deixa sem sombra para dúvidas um sério aviso quando afirma, cito “exorta às autoridades competentes, ao rápido e cabal esclarecimento deste caso e assegura que estará permanentemente atento à evolução dos inquéritos judiciais”, fim de citação.
Talvez para ajudar um pouco nas investigações que o Ministério Público deverá, com toda a certeza, levar a cabo, vamos tão-somente relembrar o conteúdo do “Comunicado do Governo” de 26 de Dezembro de 2011.
Recorde-se que numa reunião de urgência convocada pelo Presidente da Assembleia Nacional Popular e que assegurava por interinidade transacional e constitucional a Presidência da República devido aos acontecimentos de 26 de Dezembro de 2011, com o objectivo de esclarecer os factos ocorridos na madrugada desse dia.
Durante esta reunião do Conselho de Ministros extraordinário e presidido pelo Presidente da República de Transição, o Senhor Chefe do Estado-Maior General das Forças Armadas informou as autoridades presentes que um grupo de militares efectuou um assalto ao Paiol das Forças Armadas, sito nas instalações do Estado-Maior do Exército, em Bissau, dele tendo retirado armas e munições que de seguida foram transportadas para o Estado-Maior da Marinha.
Seria o próprio General António Indjai que informaria aos presentes que para além de altas patentes militares, também estão envolvidos neste processo alguns elementos civis, acentuando ainda na sua informação desconhecer as motivações que estiveram por detrás do acontecido, não deixando contudo, de informar que parte significativa deste grupo encontrava-se já detida e que a situação estava já sob o controlo das Forças Armadas, ou por outras palavras, que a situação estava sob o seu total e completo controlo.
Dos elementos militares e civis detidos sob as ordens do General António Indjai, destaca-se a do Almirante Bubo Na Tchute, enquanto que outros se entregaram (Marcelino Simões Cabral, mais conhecido por “Joe” esteve nas masmorras da Policia Judiciária até dias depois do golpe de Estado de 12 de Abril).
De Roberto Cacheu só se soube que desapareceu da cena e se especulava que estava em parte incerta.
Outro presumível envolvido nesse processo, o Major Iaia Dabó, irmão do também assassinado Baciro Dabó, foi igualmente assassinado pelos agentes da polícia quando se preparava para se entregar as autoridades, num acto que se especulou como de vingança pela morte de um jovem agente das Forças de Intervenção Rápida levada a cabo quando estas forças policiais se preparavam para assaltar e prender Roberto Cacheu e os seus presumíveis comparsas entrincheirados na sua residência.
Volvidos todos este tempo, ou seja, de 26 de Dezembro a esta data, vem o Governo de Transição pela voz do Senhor Ministro Fernando Vaz anunciar e confirmar este facto, que muito prontamente a Direcção-Geral da Segurança de Estado, através do Senhor Director-geral da Segurança do Estado desmentiu, sem contudo explicar aos guineenses os reais motivos que levaram a prisão preventiva dos ex-responsáveis pelos Serviços de Informação do Estado no Governo de Carlos Gomes Júnior, nomeadamente, os Coróneis Lino Lopes, Serafim Embaló, Tem-Coronel Candé e outros preponderantes elementos desse departamento e por este andar e com as muitas histórias e os cenários já sobejamente conhecidos pelos guineenses e não só, não é de estranhar que mais este crime seja imputado a Carlos Gomes Júnior.
Vamos colocar alguns elementos para ajudar as investigações a encontrarem algumas pistas, pois urge, na verdade, que se ponha fim de forma imediata a  este ciclo infernal de assassinatos e a preocupante impunidade que existe de facto na Guiné.Bissau.
Assim sendo, vamos ainda recuar um pouco mais no tempo, para recordar que a Liga Guineense dos Direitos Humanos (LGDH), exigiu há um mês e meio atrás num comunicado tornado público a libertação imediata do ex-CEM da Marinha militar, Buba Na Tchutu, Watna Na Lai, Kletche Nancanha e demais outros anteriormente acusados de estarem “implicados” no caso 26 de Dezembro de 2011.
A decisão da Liga em pedir a libertação destas altas patentes das FARP foi uma resposta directa às declarações do Comando Militar na voz do seu porta-voz o Tenente-Coronel Dabana Na Walna, segundo as quais, o alegado golpe de 26 de Dezembro de 2011, de que o Almirante Bubo Na Tchutche foi acusado pelo próprio General António Indjai, foi mais “uma inventona”.
E com este anúncio do Comando Militar, a LGDH defendeu na ocasião o facto de ter deixado de haver argumentos legais para a continuação da detenção de alguns oficiais superiores e subalternos das forças armadas da Guiné-Bissau.
Eis o que foi o comunicado da LGDH, que reproduzimos na íntegra: “Em virtude da evolução politica e consequente agravamento da situação dos direitos humanos no país, após ao golpe de estado de 12 de Abril, a Direção Nacional da Liga Guineense dos Direitos Humanos vem mais uma vez, manifestar a sua preocupação face à situação dos detidos em conexão com o caso da alegada tentativa de golpe de estado de 26 de Dezembro 2011, e do acordo político assinado entre diferentes partidos políticos e o Comando militar.
Em Dezembro de 2011, um grupo de cidadãos, incluindo altos oficias militares foram acusados e detidos pelas autoridades militares e posteriormente transferidos para a justiça, tendo alguns já sido acusados pelos crimes de alteração de estado de direito e associação criminosa pelo Ministerio Publico, no passado mês de Março do ano em curso.
Não obstante, as conclusões aduzidas pelas instâncias judiciárias, o Comando Militar tornou público ontem dia 22 de Abril, através de um comunicado à imprensa que a alegada tentativa do golpe de estado, do passado dia 26 de Dezembro 2011, não passa de uma inventona. Com este anúncio, aparentemente deixaram de existir os fundamentos legais e objectivos para a continuação do regime de detenção, em que se encontram alguns oficiais superiores e subalternos das Forças Armadas a cerca de 6 meses.
Por outro lado, no quadro da transição politica que se preconiza para um periodo de 12 meses, o Comando Militar e alguns partidos politicos rubricaram um Acordo Poltico no passado dia 18 do corrente mês, que prevê no seu artigo n 1 alinea d) citamos: “ a adopção pela ANP de uma lei de amnestia em favor dos autores do golpe de estado militar de 12 de Abril de 2012” fim da citação.
Para reavivar a memória dos guineenses e da comunidade internacional, a Assembleia Nacional Popular aprovou no dia 4 de Março 2008, a lei nº 5 / 2008, pela qual foram amnistiados os crimes e infracções de motivações político-militares, cometidos tanto na Guiné-Bissau como no estrangeiro desde a independência até ao caso 6 de Outubro 2004 que culminou com os assassinatos do Chefe de Estado-maior, General Veríssimo Correia Seabra e do Coronel Domingos Barros.
Desde esta altura até à presente data, a Guiné-Bissau assistiu um ciclo vicioso de instabilidade politica e militar ou seja, duas alegadas tentativas de golpes de estado, assassinatos de altas figuras do estado, várias sublevações militares, um golpe de estado e vários outros casos que envolveram os militares e dirigentes políticos, pondo em causa as bases sobre as quais assentam a democracia e o estado de direito, em particular a finalidade e a razão de ser da amnistia. Estes factos demonstram de forma inequívoca que a opção pela via de amnistia na realidade guineense não só consubstancia num desvio aos seus fins, mas também serve de incentivo à institucionalização da impunidade e as violações sistemáticas dos direitos humanos.
Face ao acima exposto, a Direcção Nacional da LGDH delibera os seguintes:
1. Exortar o Estado Maior General das Forças Armadas, enquanto o principal denunciante do caso de alegada tentativa de golpe de estado de 26 de Dezembro de 2012, o maior esclarecimento junto das autoridades judiciárias;
2. Exigir a libertação imediata de Bubo Na Tchuto, Watna na Lai, Clecthe na Incanha e demais outros detidos, em conexão com a suposta tentativa do golpe de estado;
3. Denunciar o acordo político assinado entre militares e partidos políticos pela sua contradição com os desígnios de combate à impunidade e os esforços de consolidação da paz e do estado de direito;
4. Exortar os deputados da Nação e a classe politica em geral no sentido de rejeitarem liminarmente quaisquer iniciativa legislativa que visa amnistiar os autores materiais e morais do golpe de estado do dia 12 de Abril 2012, que causou e tem causado danos incalculáveis ao povo guineense;
5. Exigir mais uma vez, ao Comando Militar, a levantamento imediato da interdição ilegal de viagens impostas a 58 cidadãos.
6. Exigir a cessação imediata das perseguições politicas, bem como da criação segurança aos dirigentes políticos para pôr fim a clandestinidade a que se encontram a maioria deles.
Feito em Bissau aos 23 dias do mês de Maio 2012
A Direcção Nacional”
De seguida vamos apresentar as fotocópias do Comunicado do Governo de 26 de Dezembro.
Que cada um possa tirar as suas ilações:


quarta-feira, 30 de maio de 2012

AS VERDADES ATÉ AGORA ESCONDIDAS POR MEDO… “in memórias do tempo”.

António Indjai ordenou o assassinato de Nino Viera, como sendo um acto de vingança pela morte de Tagme Na Wae e não só...

Mais ainda…Hélder Proença, Faustino Imbali, Roberto Cacheu, com quem contactaram para darem um golpe…nada mais, nada menos do que António Indjai.

Será que há um guineense minimamente honesto que não se recorda das afirmações várias vezes produzidas pelo ex-Chefe de Estado-Maior General das Forças Armadas, Tagme Na Waié, que dizia em alto e em bom som, frases como estas: “…si Nino matam parmanhã, ditardi ina murri… si matan di tardi, dinoti ina murri… si matam dinoi, mandrugada ina murri… si matan mandrugada, parmanhã ina murri…(se Nino me matar no período da manhã, ele morrerá à tarde… se ele me matar à tarde, morrerá à noite… se me matar à noite, morrerá de madrugada… se me matar à madrugada, morrerá de manhã…).

Se notarem bem, há sempre um período de tempo entre a hora do crime e a hora de vingança. Isto significa que o Batalhão de Mansoa e o seu Comandante já tinham sido instruídos para materializar a vingança. Entre a notícia da morte, a preparação, a viagem de Mansoa para Bissau e a consumação do acto, havia já sido delineado um tempo limite… “…parmanhã---di tardi…” etc, etc..

Vamos passar aos factos.

Os autores materiais do crime, todos eles são militares pertencentes, à data do assassinato do Presidente Nino Vieira, ao famigerado Batalhão de Mansoa, que estava sob o comando do então Coronel António Indjai e são, nomeadamente, os senhores:

1.  Major Martinho Djata
2.  Alferes Buan Nan Dum
3.  2º Sargento Solnate N´Cuiá
4.  2º Sargento José Arimi
5.  2º Sargento Bukuti Tchudá
6.  Furiel Wassate Besna
7.  Cabo Binhan Nan Kina

Estes sete militares sob as ordens do então Coronel António Indjai, só tiveram uma contradição entre eles. Quatro deles diziam terem sido transportados numa carrinha dupla-cabine de cor branca de Mansoa até ao edifício da ANP, enquanto outros diziam ter feito o mesmo trajecto de Mansoa até ao QG e outros diziam até uma mesquita…

Contudo, pelas declarações produzidas nas audições, há certezas absolutas nos depoimentos de todos eles e vejamos as coincidências:

·        não negam que saíram de Mansoa para Bissau na noite do assassinato de Tagme Na Waié;

·        não negam pertencerem todos eles ao Batalhão de Mansoa;

·        não negam terem sido transportados numa carrinha dupla-cabine afecta ao Batalhão de Mansoa;

·        não negam que António Indjai era o Comandante do Batalhão de Mansoa;

·        não negam terem baleado o ex-Presidente Nino Vieira;

·        negam serem eles que esquartejaram brutalmente o ex-Presidente Nino Vieira;

·        afirmam que foram outros militares esquartejaram brutalmente o ex-Presidente como um acto de ajuste de contas;

Há ainda outros dados interessantes. Basta rever as primeiras imagens captadas nas primeiras horas de longe pelas camaras da RTP África e teledifundidas para se ver quais os militares que saíam e entravam na residência do ex-Presidente. Um deles era o então Major Tcham Na Man, saíndo da residência de Nino Vieira e jogando fora uma garrafa de cerveja na rua…

Outro importante dado a ter-se em conta é o facto dos advogados que trabalharam na defesa dos seus clientes nestes processos, por diversas vezes frisaram que em todos os depoimentos e audições levadas a cabo nunca o nome de Carlos Gomes Júnior foi uma vez mencionado.

Recorde-se que em 2010, um Relatório de Direitos Humanos divulgado pelo Departamento de Estado norte-americano atribuía a morte do antigo Presidente guineense Nino Vieira, em março de 2009 por "soldados sob o comando do Coronel António Indjai". O relatório do Departamento de Estado norte-americano começa por lembrar que durante 2010 “não houve qualquer evolução nos casos dos homicídios de 2009 do antigo Presidente Vieira e do ex-chefe do Estado-Maior General das Forças Armadas o general Batista Tagme Na Waié".

De 2010 a esta data, as organizações internacionais dos direitos humanos continuam a questionar as autoridades guineenses sobre a não evolução das investigações dos homicídio ocorridos na Guiné-Bissau, facto que levou ontem o Dr. Edmundo Gomes, Procurador-Geral da República da Guiné-Bissau a anunciar numa conferência de imprensa que o “processo do assassínio do ex-chefe das Forças Armadas da Guiné-Bissau Tagmé Na Waié está concluído e pronto para julgamento e o do antigo Presidente Nino Vieira em fase de conclusão”

Edmundo Mendes disse numa conferência de imprensa em Bissau que a investigação do processo sobre a morte de Nino Vieira (assassinado horas depois do atentado à bomba contra Tagmé Na Wae, em Março de 2009) "está numa fase irreversível de quase 90 por cento".

Sabe-se que uma alta patente militar, que por razões de respeito e ética, não mencionámos o seu nome, assumiu ele mesmo a autoria moral e operacional do assassinato de Tagmé Na Waié e exemplificou como concebeu e montou a bomba a partir da utilização de um sistema de controlo remoto de um ar-condicionado e da utilização de explosivos, cuja potência destruiu uma parte substancial do prédio onde funcionava o Estado-Maior General das Forças Armadas. Também se conhecem as pessoas que transportaram a bomba e os que acionaram o controlo remoto.

Numa atitude de coragem, de ética, de moral elevada, de dignidade, o PGR da Guiné-Bissau relembrou aos guineenses que de nada servem levar-se a cabo acusações sem a apresentação de provas que possam ajudar a justiça a levar por diante o seu trabalho. Edmundo Gomes dava uma resposta indirecta aos detratores do Primeiro-Ministro Carlos Gomes Júnior, vindos por parte de um sector balanta do PRS e do Comando Militar, com particular realce, por parte do Tenente-Coronel e membro do Comando Militar Dabana Na Walna.

Pelas poucas considerações aqui expostas, podemos avançar que o argumento, o relativo aos “crimes” do Primeiro-Ministro, também ele é um argumento falso, porquanto, sabem-no os militares tão bem como certos políticos, que nenhuma acusação formal existe contra o Primeiro-Ministro, nem nunca o Primeiro-Ministro teve poder para impedir qualquer tipo de investigação ou processo contra ele.
Este argumento prova à saciedade e a promiscuidade existente entre certos partidos e certos políticos e os militares golpistas, porquanto estes apenas vêm reintroduzir argumentos já utilizados até à exaustão contra Carlos Gomes Júnior por políticos e por partidos políticos. A prova desta promiscuidade foi ainda revelada pelo claro envolvimento de civis e políticos no golpe de Estado de 12 de Abril, alguns exibindo-se mesmo com fardamento militar e armas de fogo em alguns bairros de Bissau.
Ousamos perguntar?
Ø No reinado do Presidente Nino Vieira, Carlos Gomes Júnior enfrentou-o directamente sobre a famosa questão das “casas” que o ex-Presidente dizia pertencerem-lhe. Será que Carlos Gomes Júnior tinha mais poder que Nino Vieira, a ponto de impedir que este recolhesse e apresentasse as provas existentes contra si?
Ø Não foi o Primeiro-Ministro Carlos Gomes Júnior demitido por Nino Vieira?
Ø Então quem é que tinha mais poderes?
Ø No reinado do falecido Presidente Malam Bacai Sanhá, o Procurador-Geral Amine Saad estava sob a dependência de Carlos Gomes Júnior?
Ø Ele não foi nomeado com o firme propósito de investigar e levar à justiça os executantes e mandantes dos crimes que vitimaram Tagme Na Waié e Nino Vieira?
Ø Carlos Gomes Júnior tinha poderes para impedir a investigação?
Ø Aliás, quem não sabe quem foram os executores do vil assassinato de Nino Vieira?
Ø Porque é que não se conclui o inquérito sobre o assassinato do General Tagme Na Waié, quando até a reconstituição do crime foi feita pelo próprio autor confesso?
Expandiu-se propositadamente a ideia de que o Primeiro-Ministro gozava de proteção especial de Zamora Induta, Chefe do Estado-Maior que sucedeu a Tagme Na Waié.
Ø Afinal Zamora Induta tinha algum poder real?
Ø Mesmo admitindo que sim, será que após o seu afastamento o novo “poder militar” impediu a investigação dos crimes de que eram acusados?
É bizarro e, sobretudo, contraditório.
Face ao ódio que verificamos existir contra Carlos Gomes Júnior, provindo de sectores civis e militares que controlam o poder real, não temos a menor dúvida que se existissem provas contra ele, há muito tinha sido julgado e condenado.
Aproveitando este pequeno esclarecimento e informação que considero como útil e saudável para os guineenses retirarem as suas próprias ilações, penso que é deveras importante reproduzirmos um trabalho de valor excepcional levado a cabo por um Guineense que se bate de forma decidida e corajosa pela justiça, legalidade e dignificação dos guineenses.
Refiro-me ao Fernando Csimiro, mais conhecido por “Didinho” que a 16 de Julho de 2010, manteve uma conversa interessante e muito importante para ajudar a justiça guineense a encontrar os responsáveis pelos assassinatos que têm envergonhado o nosso país.
Eis o artigo em questão, publicada no blog do Didinho:
À CONVERSA COM O CAPITÃO PANSAU INTCHAMA
a passada sexta-feira, 16.07.2010, no meu trajecto por Mafra, encontrei-me com o Capitão Pansau Intchama. Não o conhecia pessoalmente, mas como falamos por telefone várias vezes, encontrando-se ele nesse dia em Mafra e estando eu de passagem, proporcionou-se um encontro, há muito desejado.
Tive conhecimento de que Pansau Intchama se encontrava em Portugal no dia 04.04.2010 e desde então, temos falado por telefone com alguma regularidade.
A 12 de Dezembro de 2009 escrevi um texto intitulado "A PULSEIRA...", no qual relatei o que em Bissau se tem dito sobre a sua participação no assassinato do ex-Presidente da República, o General João Bernardo "Nino" Vieira. Fiz questão de lhe dizer que tinha escrito esse artigo e ele tranquilamente respondeu: "Sim, é o que se diz por aí...".
Pansau Intchama é um jovem, nascido em 1979, bem-disposto, muito lúcido, que denota muita preparação psicológica, fruto da sua formação militar. Não é fácil conseguir obter dele informações precisas que a ética e a disciplina militar impõem como assunto estritamente de ordem militar.
Por diversas vezes tentei "sacar" dele informações e confissões sobre as matanças de 01 e 02 de Março de 2009, mas também, sobre o envolvimento das altas chefias militares e outros, no narcotráfico.
"Sabes, sou militar, sobre essas coisas não falo...". Respeitei sempre a sua "recusa" em falar, mas na sexta-feira, 16 de Julho, dia em que concluiu o Curso de Promoção a Capitão de Infantaria - CPCI - Curso General Luís Augusto F. Martins, realizado em Mafra de 11.01.2010 a 16.07.2010, consegui saber algo mais do que sabe Pansau Intchama, considerado testemunha-chave, a par de Isabel Romano Vieira, do assassinato do ex-Presidente Nino Vieira.
Pansau recebeu-me no jardim em frente à Porta de Armas da Escola Prática de Infantaria, aí conversamos um pouco e depois convidou-me a entrar para visitar a EPI.
Pude constatar que conhece os cantos à casa e que é bem tratado por todos. Fomos ao bar beber qualquer coisa e de seguida, fez questão que jantasse com ele. Surgiu no entanto um outro militar timorense que tinha frequentado o mesmo curso que ele e jantamos os 3 .
Continuamos a falar da Guiné e dos militares; da necessidade de os nossos militares frequentarem cursos de oficiais e outros, no âmbito da capacitação dos recursos humanos em particular e da modernização das nossas Forças Armadas em geral.
Terminado o jantar, dirigimo-nos para o quarto onde está instalado e que partilha com um militar cabo-verdiano, do mesmo curso, com quem também falei.
Pansau ligou o seu portátil e mostrou-me imagens fotográficas e vídeos do seu casamento, realizado em Janeiro deste ano, dias antes de viajar para Portugal a fim de frequentar o curso de promoção a capitão de infantaria, curso este proporcionado pelos acordos de cooperação militar entre Portugal e a Guiné-Bissau e abrangente a outros países da CPLP.
Foi o António Indjai quem fez questão que eu me casasse antes de viajar para Portugal, disse-me ele, acrescentando que foi assessor de António Indjai durante 7 anos!
Na verdade, ele tinha-me como um filho!
Das muitas imagens que vi, pude concluir que Pansau Intchama era (até Janeiro de 2010) muito estimado pelas chefias militares.
Pude ver no seu rosto, muita ansiedade, reflectindo, naturalmente, saudades da família que se encontra em Bissau: a esposa e os seus filhos, um casal de gémeos.
Então Pansau, sempre voltas para a Guiné-Bissau, mesmo sabendo que corres risco de vida, por tudo o que se tem dito a teu respeito? Questionei-lhe mais uma vez, a ver se lhe conseguia surpreender e obter algo que me ajudasse a juntar mais dados sobre o que penso e já escrevi em relação às matanças de 01 e 02 de Março de 2009.
Sim, estou disposto a regressar e já agora, faço questão que saibas que, contrariamente ao que dizem na Guiné, não fugi e, se estou em Portugal, isso é do conhecimento das nossas autoridades, pois vim fazer especialização desde Janeiro e o levantamento militar aconteceu a 01 de Abril.
Para confirmar-te que as nossas autoridades sabem onde estou e o que vim fazer, vou telefonar agora mesmo ao General António Indjai e vais ouvir a nossa conversa.
Telefonou, no modo alta-voz e pude ouvir, do outro lado da linha alguém atender.
- General, i ami Pansau! General, sou eu o Pansau!
Ah, Pansau, cuma ku sta?! Ah, Pansau, como é que estás?!
Pude ouvir a voz do António Indjai, tal e qual a da gravação contendo as ameaças proferidas no dia 01 de Abril passado. Porém, desta vez era uma voz calma, muito calma mesmo.
Da conversa tida entre eles, o Capitão Pansau Intchama fez questão de dizer ao actual Chefe do Estado-Maior General das Forças Armadas, António Indjai que, tal como lhe dissera há cerca de 1 mês, o seu curso acabava e acabou nesse dia, 16 de Julho e que, por isso, aguarda o Bilhete de passagem de regresso ao país, sendo que, já não tem direito a ficar alojado nas instalações da EPI, pois a sua formação tinha chegado ao fim...
Do outro lado, o General António Indjai respondeu mais ou menos desta forma: "Tem calma, o Ministro vai resolver isso, tens que aguardar. Olha, os teus colegas que estão em Angola a receber formação, estão bem piores e até choram..."
Aguardar até quando, General? Perguntou Pansau Intchama, para a ligação terminar aí...
Se dizem que sou criminoso, então que me enviem o bilhete de passagem para eu regressar e ser julgado pelos crimes que me acusam, disse-me de seguida Pansau Intchama.
Afinal, por que razão os deputados guineenses e outras autoridades nacionais continuam a afirmar desconhecer o paradeiro do Capitão Pansau Intchama, ele que chegou a ir à nossa Embaixada em Lisboa tratar de assuntos pessoais?!
Afinal, por que razão algumas vozes acusam Portugal de dar protecção ao Capitão Pansau Intchama, quando, na verdade, todos sabem desde quando Pansau Intchama saiu da Guiné, com destino a Portugal e, ao que veio...
Confrontei o Capitão Pansau Intchama com notícias publicadas em diversos órgãos de Comunicação Social, dando conta de que o Procurador-Geral da República, Dr. Amine Michel Saad estaria interessado e empenhado em ouvi-lo, por ter sido considerado testemunha-chave do assassinato do ex-Presidente Nino Vieira.
Levantou-se e foi buscar 1 exemplar do Semanário "Última Hora", Edição Nº 89, de 16.06.2010, publicado em Bissau, que fala precisamente sobre o assunto.
Pansau Intchama, pelos vistos, está bem informado e documentado sobre o que se diz dele.
Talvez abalado por tudo isso, se tenha deixado embalar na conversa que fui puxando até chegarmos ao seguinte:
Pansau, onde estava António Indjai na madrugada em que o ex-Presidente Nino Vieira foi assassinado?! Perguntei.
- Hum, onde achas que devia estar?!
É assim Pansau, acusam-te de seres criminoso, de teres participado na morte de Nino Vieira, sabem que estiveste lá, mas certamente, digo eu, não estavas sozinho...
Olha, sou militar, como militar respeito os meus superiores e cumpro as suas ordens.
Estávamos, estivemos todos em casa do ex-Presidente Nino Vieira nessa noite. O nosso Comandante era o António Indjai. Um militar cumpre ordens do seu superior hierárquico...
Por que não falam do Major Tcham Na Man, questionou, dando a entender que foi este oficial, aliás, referenciado na altura, quem teve maior participação na morte de Nino Vieira.
De seguida, disse-me: Se não fosse a minha pronta intervenção, o grupo de militares que aí estava teria violado a esposa do Presidente! Eu é que a tirei das mãos deles e disse-lhe para ir embora, ao que respondeu: obrigado nha fidjo. Obrigado meu filho.
Que relação existe entre o duplo assassinato de Tagme na Waie e Nino Vieira, perguntei.
O assassinato de Tagme Na Waie, tem a ver com o narcotráfico, com os aviões que até hoje estão no aeroporto de Bissalanca...
Mas isto quer dizer que, as disputas provocadas pelo controlo do narcotráfico, entre Tagme Na Waie e Nino Vieira ditaram a morte do Tagme e que de seguida houve um aproveitamento estratégico de pessoas interessadas na tomada do poder e que incitaram os militares a vingarem-se, assassinando o ex-Presidente Nino Vieira, por, alegadamente se atribuir a ele a autoria moral do assassinato de Tagme Na Waie?
Ainda temos mais esclarecimentos a fazer sobre os assassinatos de Hélder Proença e Baciro Dabó, que em tempo oportuno daremos algumas informações pertinentes e úteis.
Também vamos falar dos assassinatos ocorridos no triste e famigerado caso conhecido por “17 de Outubro” onde foram assassinadas com feroz brutalidade a nata das Forças Armadas Guineenses (Paulo Correia, Braima Bangurá, N´Foré Bitna e tantos outros grandes e heroicos Combatentes da Liberdade da Pátria), sob o directo comando e envolvimento de Nino Vieira e dos seus homens de mão na altura: Anssumane Mané, João Monteiro, Afonso Té, Joaquim Furtado e tantos outros ferozes assassínos…onde também se incluem políticos (lubu tá kumé lubu…)
Os assassinatos de Veríssimo Correia Seabra, Domingos Barros também serão aqui relatados…
Os guineenses saberão quem são na verdade os mandantes e os autores materiais desses horrendos assassinatos.
A verdade é como azeite em água…por mais que se misture não há osmose entre eles…